31/03/2009

Processo jurídico disfarçado de censura?

O assunto a seguir, soa-me como algo que aparece muito no livro que ainda não terminei de ler, "1984": algo como reescrever um fato, ou oprimi-lo até que se torne senão invisível.

Passei do Luz ao blogue Biscoito Fino e descobri - o que o Idelber chamou de jornalistas-processando-e-silenciando blogueiros - que o jornalista e professor Wladimir Ungaretti foi processado porque relatou em suas páginas pessoais, práticas midiáticas parciais de outro foto-jornalista, funcionário da RBS, que já ganhou mais de 50 prêmios de fotografia e um Vladimir Herzog, de Direitos Humanos, Ronaldo Bernardi.

WU foi julgado e perdeu a causa na Justiça; como consequência precisou retirar dos seus sites todo conteúdo que comentasse, ou que tivesse alguma referência (o conteúdo desse blogue também vai sumir?) a "Fotonaldo", principal elemento do processo. Essa postagem do Jornalismo B (que eu acabei de conhecer), destrincha:


Nesta segunda-feira o professor universitário Wladymir Ungaretti retirou o conteúdo do site e blog Ponto de Vista em decorrência do processo movido contra ele pelo fotógrafo Ronaldo Bernardi. Funcionário da RBS, Bernardi acredita que as críticas publicadas no blog e na revista digital de Ungaretti a respeito de seu trabalho no jornal Zero Hora são ofensivas e destrutivas, assim como o apelido “Fotonaldo“, título carinhoso que WU emprestava a Bernardi. A “Justiça” determinou que Ungaretti se calasse a respeito do assunto, ou seja, apagasse de seu blog todas as referências ao nome e ao trabalho de Ronaldo Bernardi. Ungaretti acatou esta determinação provisória retirando não apenas os conteúdos relacionados ao fotógrafo, como também exclui todo o material do Ponto de Vista, transformando seu silêncio em eloquente protesto.


Nos comentários do blogue Ponto de Vista, do Wladimir Ungaretti, ele explica o que o motivou a comentar a atuação de Bernardi, é algo como amplificar, dar voz (apenas) a versão oficial de um fato, ou, como prefiro dizer, trabalhar para a manutenção do status quo.

Mergulhando no assunto, parece não haver críticas infundadas de WU, nem coisas do tipo, "ofensa pessoal" . Mas, não há como saber de fato, porque o conteúdo foi apagado -censurado e não há na net até o momento uma defesa por parte de Bernardi. A Ariela Boaventura esmiuça as nuances do que rolou, com muita lucidez, diga-se.

Outros fenômenos parecidos aconteceram recentemente, como o caso do sumiço do blogue do PH Amorim que desapareceu da noite pro dia e, em certa parte, o neologismo "ditabranda" do jornal FSP, também devidamente comentados aqui.

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Redigindo um mail descobri que a telenovela "O Marajá" de José Louzeiro (aquele que ficou famoso com "O passageiro da agonia") foi censurada em pleno 1993 de ser transmitida na extinta Manchete, porque baseava-se numa comédia sobre o impeachment de FHC. Eu nunca tinha ouvido falar disso. E o nobre está reeleito.





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Tem um montão de links aqui, e geralmente quando visito alguma postagem assim, clico em um ou dois, no máximo, no geral. O intuito, é tentar colocar o mundo (rárárárá) a par do assunto. Porque, ao que parece, essa falsa democracia que garante "liberdades" e cede liberdades à grandes núcleos midiáticos vem atropelando a vontade (e a importância) de as pessoas desdobrarem determinados temas.

5 comentários:

Xenya Bucchioni disse...

E há aqueles que acreditam, ainda, que a internet é um super espaço aberto para livre expressão. Será que podemos, realmente, fazer essa afirmação? Não desmereço os avanços de todo esse universo virtual, mas nas mãos de quem esse poder tem se concentrado? E mais, o evento mostra bem o tipo de relação promíscua entre imprensa e "justiça".

Alexandre Haubrich disse...

Olá.
Agradeço a referência, e venho fazer uma pequena correção: o blog é Jornalismo B, e não "Jornal Lado B".
De resto, cabe acrescentar que esses casos se multiplicam no país inteiro e, em especial, no RS. O blog Nova Corja é outro exemplo disse. Já foi processado por Políbio Braga e, agora, por Felipe Vieira, dois outros jornalistas.
Cada vez mais claro que, em grande parte, a grande mídia não sabe receber críticas, acredita que a imprensa dominante não falha jamais e que a liberdade de imprensa só serve para eles.
Um abraço

Anônimo disse...

Gabriel, queria destacar um trecho da postagem no RS Urgente, se não for demais:

"Durante décadas, os profissionais da chamada grande imprensa trabalharam sem o tipo de acompanhamento crítico diário que ocorre hoje na internet. E sempre tiveram posição contrária à censura de seus trabalhos. Agora, aparentemente, jornalistas podem engrossar a onda daqueles que querem impor “limites mais rígidos à internet. A linguagem adotada pela maioria dos blogs e sites alternativos é irreverente por natureza. Pois agora, a irreverência e o sarcasmo estão sendo tipificados criminalmente" (http://migre.me/hQ8)

:) Boa semana!! Beijus

Bruno Espinoza disse...

Estes são dias cruciais, meu caro. Por mais que cause perplexidade algumas faíscas que o mainstream da mídia deixa escapar pra cima de blogs e afins, o momento é de definição, porque máscaras caem e a "brincadeira" de internautas não é mais tão simples. Os agraciados pela liberdade de imprensa, na prática, se revelam porque, como disse, é o momento. Não sei o que será nem a melhor reação a essas condutas, lobby, etc, mas não podemos esquecer que é o momento.
Vc tem acompanhado a Lei de Imprensa no STF?

Tiago Jucá disse...

Forza Ungaretti !