02/06/2009

*A vida pós-admirável mundo novo


Ainda bem que inventaram os apetrechos high techs, porque agora quando entro na minha sala e cozinha até tropeço de tanta coisa que comprei e já não tem mais dispensa pra enfiar.

Também agora quando ando na rua e ligo meu Mp3 super mega foda não conheço mais ninguém, me fecho no meu mundinho roquenroll: não vejo nada, não penso, não ouço, nada.

E ainda bem também (essas duas palavras já foram repetida n vezes e quando isso acontece temos que variar, escolher outra, para mostrar que temos técnicas apuradas e vasto vocabulário) que o big bode acabou. Mas ano que vem tem a edição número 27 para eu me divertir de novo; o Faustão me garantiu ontem que o último big broder foi o melhor em nível intelectual dos participantes. Logo, o próximo será ainda melhor, claro mano.

E eu pequei por empréstimo porque me apossei dos pensamentos transcritos num pornô-erótico que acabei de ler. Agora vou ter que me ajoelhar, rezar pedir misericórdia clemência da alma minha que desejou a mulhé do próximo e aqueles aparelhos maravilhosos todos da casa do meu primo médico. E tornei a pecar porque (de novo essa palavra) havia me engajado politicamente e, portanto, não poderia mais freqüentar aquele supermercado que compra carne de terras que usam trabalho escravo, mas edaí-foda-se, é só hoje, não vou a outro lugar, já estou aqui mesmo e a gasolina é cara, me faltam meios, emprego, cachaça, estou desculpado.

Perdão também mãe natureza por aquela fóda que eu dei no banheiro enquanto a água abundante e quentinha caía pro ralo. Ferrou, vida lazarenta e pobre que não tem nem vinte conto pra sorrir na balada. Agora eu to mal. Vou às compras, voltar com várias sacolas balançando, jogar tudo na cama, abrir uma por uma, que delícia e passar esse mal estar stress momentâneo, depois um lanchinho e.

E nem vai dar também para cachimbar porque foi proibido. E o índio acabou preso, queimado na sarjeta e o outro morreu num sorteio por causa da hiper-lotação e eu não vou querer isso pra mim, claro, afinal sou um rebelde sem causa que tem dinheiro pra sair, um carro que o meu pai me deu (filho homem tem que ter um carro seu) e vários outros investimentos: aulas de natação, plano de saúde e escola particular, outra de idiomas, curso de piano (o Word tá dizendo aqui que essa frase tem 64 palavras e ela deve ter apenas 60). E agora essa minha geração faz tudo pela internet, não luta por nada, debocha de quem pensa e manja tudo de jogos on-line, mas não sabe jogar mãe da rua. Sorte nossa que não teremos problemas com o sistema, porque já estamos inseridos nele, com uma falsa ilusão de consciência e. Estou sem ar, preciso tragar um cigarro pra acalmar, alguém tem um pra eu cerrar?

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* Com algumas pequenas mudanças, esse texto foi originalmente publicado em 2007, no Binóculo, quando o site estava na ativa. A escolha da imagem deve-se ao fato deste conversar com as críticas que Chaplin fez em "Tempos Modernos".

Enquanto posto ouço & Nação Zumbi &

4 comentários:

Mateus do Amaral disse...

Muito cativante, como o outro; muito engraçado, como o outro; muito crítico, como o outro. A diferença é que um é barbudinho e o outro tem bigode.

silvia disse...

Eu sabia que já tinha lido algo parecido em algum lugar. :)
Gabriel Ruiz, vidia e óbria, fica na cabeça da gente!
bjomeliga

silvia disse...

Eu sabia que já tinha lido algo parecido em algum lugar. :)
Gabriel Ruiz, vidia e óbria, fica na cabeça da gente!
bjomeliga

Xenya Bucchioni disse...

É tudo isso e mais um monte de coisas complexas dificéis de explicar que nos deixam, realmente, sem fôlego...rs