Enquanto isso, após deixar meus pensamentos no bueiro dessa calçada mal cuspida, observando a rua com vontade de gastar, não escapo de uma revista-capa. Falava sobre a minha garota subindo pelas paredes e como se vestir no melhor estilo-fashion-street. Sem perder tempo, levei as mãos ao bolso traseiro, aquelas roupas deviam ser demais.
Aproveitei pra comprar lenços de papel numa farmácia ali do outro lado da rua. Uma gripe forte me assolava há dias, regulando a cerveja, espirros ardidos e. Recolho a migalha do troco e adianto um alívio retirando da embalagem de plástico um lenço mentolado. Seguro firme com as mãos, encaro-o de frente, enfio o nariz, mergulhando junto. O vento agressivo desajustava os cabelos finos e encharca a via de papéis, sacos e outros objetos de tamanhos e cores diferentes.
Essa merda toda deve acabar no bueiro, entope tudo, vira um inferno, uma. Assoprei forte as narinas; dobrei o papel ao meio, remanejei-o e assoei novamente, só de um lado. Senti um leve frescor, uma respiração mais nítida. O lenço ficou cheio, escorregadio. Dei uma analisada no conteúdo pra ver se estava tudo bem comigo e abri a janela, sem pressa, motorizado.
Pus o pescoço pra fora: nada, ninguém; um odor suave cinza circulava. Alcancei o lenço escorregadio; tranquilamente, arremessei-o esticando os braços em câmera lenta, para que imortalizasse meus restos ao vento. Fitei o retrovisor e o vi rolar bem ao centro da via, único, pleno; olhei em frente, alguém insinuava alguma coisa na esquina com as mãos, gesticulando freneticamente, corpo, um cabo de vassoura e tudo o que dispunha pra chamar a atenção. Desviei o olhar, desprezando assim aquela miserável criatura que mais parecia o gólum. Ah vá.
E, no instante seguinte, eu era o rei da parada, um astuto vadio como um cão vagal, vagando sobre um motor 83 desregulado, a outra mão erguia agora o volume e eu já cantava junto vivin la vida loca, on sai en sairá, vivin la vida loca, vivin la vida loca, camon! vivin la vida loca, camón!, via o semáfaro acender e já não lembrava mais o que havia feito ou pensado, apenas acelerava de encontro à vida.
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Amanhã, dia 28, sábado, acontece a Hora do Planeta, da qual o Rodolfo tem blogado e pelo qual soube da adesão dos clubes Flamengo e São Paulo. Acho muito interessante a ação da WFF Brasil, porém, não me inscrevi porque não sei se consigo apagar as luzes no horário combinado (das 20:30 - 21:30). Não dá pra aderir só pra fazer propaganda ecológica, sem a participação garantida.
Por outro lado, seria legal saber como e por que, de fato, ações dessa natureza corroboram com o meio; ou se seria um tipo de ação coletiva, pra chamar a atenção do planeta e nos colocar perante a questão, como brasileiros?
Fotos.
A primeira, do bueiro foi capturada por Paula Marina, no RJ; além desta ela tem outras fotos de outros bueiros.
A segunda é do Jim Skea, a rua Tavares Bastos também no Rio.
Essa merda toda deve acabar no bueiro, entope tudo, vira um inferno, uma. Assoprei forte as narinas; dobrei o papel ao meio, remanejei-o e assoei novamente, só de um lado. Senti um leve frescor, uma respiração mais nítida. O lenço ficou cheio, escorregadio. Dei uma analisada no conteúdo pra ver se estava tudo bem comigo e abri a janela, sem pressa, motorizado.
Pus o pescoço pra fora: nada, ninguém; um odor suave cinza circulava. Alcancei o lenço escorregadio; tranquilamente, arremessei-o esticando os braços em câmera lenta, para que imortalizasse meus restos ao vento. Fitei o retrovisor e o vi rolar bem ao centro da via, único, pleno; olhei em frente, alguém insinuava alguma coisa na esquina com as mãos, gesticulando freneticamente, corpo, um cabo de vassoura e tudo o que dispunha pra chamar a atenção. Desviei o olhar, desprezando assim aquela miserável criatura que mais parecia o gólum. Ah vá.
E, no instante seguinte, eu era o rei da parada, um astuto vadio como um cão vagal, vagando sobre um motor 83 desregulado, a outra mão erguia agora o volume e eu já cantava junto vivin la vida loca, on sai en sairá, vivin la vida loca, vivin la vida loca, camon! vivin la vida loca, camón!, via o semáfaro acender e já não lembrava mais o que havia feito ou pensado, apenas acelerava de encontro à vida.
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Amanhã, dia 28, sábado, acontece a Hora do Planeta, da qual o Rodolfo tem blogado e pelo qual soube da adesão dos clubes Flamengo e São Paulo. Acho muito interessante a ação da WFF Brasil, porém, não me inscrevi porque não sei se consigo apagar as luzes no horário combinado (das 20:30 - 21:30). Não dá pra aderir só pra fazer propaganda ecológica, sem a participação garantida.
Por outro lado, seria legal saber como e por que, de fato, ações dessa natureza corroboram com o meio; ou se seria um tipo de ação coletiva, pra chamar a atenção do planeta e nos colocar perante a questão, como brasileiros?
Fotos.
A primeira, do bueiro foi capturada por Paula Marina, no RJ; além desta ela tem outras fotos de outros bueiros.
A segunda é do Jim Skea, a rua Tavares Bastos também no Rio.
4 comentários:
interessante, bem legal mesmo. eu nao sei escrever esse tipo de texto, mas admiro, acho bonito. parabens
Prezada Vanessa,
agradeço efusivamente os elogios de sua parte,
obrigado!
E sobre o que vc comentou, cada um tem a sua maneira de escrever, o legal é que vc veio aqui e gostou! (:
Vanessa andava sumida, desde que se foi não mandou mais notícias aí de Londres.
volte mais vezes!
Muito bom texto!! Nao sei se vc sabe, mas to morando na Italia esse ano, vim fazer um mestrado, e aqui todo mundo tem a mania de assoar o nariz em publico fazendo muito barulho sem a menor cerimonia, um nojo so, mas é a cultura e ninguem se envergonha. Aqui ninguem anda sem lencinho de papel nos bolsos, mas ainda bem que nao jogam nada na rua!
Parabens pelo texto!!
Bjos!!
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