17/02/2009

Capítulo de um livro psicodélico

Aqueles olhos coloridos. Nem eram coloridos azuis, verdes, amarelos, vermelhos, rosas, essas coisas que você enxerga quando toma coisas pra alterar o cérebro... Apenas coloridos. E de várias cores. Que ganhavam novas cores psicodélicas conforme a língua piro-le-ta-va, faminta, alagada.

Depois, não mais que de repente. Foi outro festival colorido. Ainda mais. Não como carnavais, embora a festa estivesse ótima.

Tocou Was it You. Seria um filme? Que belo clichê.

Alou? Por gentileza...

Não, obrigado, não quero seus cartões de crédito.

Quando descolei as pálpebras que me faziam mentalizar aquele estupefar de cores & cores (que nem a Luxcolor tem), foram fogos no céu. Fogos estourando nas vias circulatórias. Coloridos. Tipo caixa de lápis de cor, daquelas bem grandonas, as maiores da papelaria.

Mas os olhos tornaram abrir. Estava escuro. O cheiro bom. Apenas bom. E não tinha cores. O escuro não tem cores, é uma cor só. Mas não esta cor que tu imaginas agora. Era outra, vermelho sangue. Eis que aqueles olhos de novo, via-os coloridos. Em volta apenas uma cor.

Estava escuro, o escuro é uma cor apenas. O lugar (o lugar é tudo que estava em volta daqueles olhos) explodia jorrando vermelho pra todos os lados, cantos e dobradiças. E o ser mais maluco naquele ambiente era um fantoche azul, que não parava de rir pra gente um segundo sequer. E aí está o barato.

Mas amanheceu, como sabiamente se pode esperar de um sábado. O lugar tinha suas cores normais, nada coloridas, esbranquiçadas na verdade. O rubro estava agora apenas na delícia-memória do ambiente aceso (ou seria escuro?).

Era hora do seu, digo, do nosso vício colorido, um deles, e seus olhos não mais coloridos elevaram-se para contemplar o instante que antecede o click do isqueiro. Mas deteve-se, breve. Depois do banheiro e do café matinal expresso, sacou o maço e não teve mais dúvidas: acendeu o primeiro câncer.

- Caralho!

E rosnou: - Já falei que meus pulmões são sensíveis, porra!

Mas não havia outra opção melhor para um dia em que se passa o dia todo na cama, era manhã bem cedim e nublava; esticaria o corpo, os dedos do pé, afundar a cabeça por ali durante horas. E a havia ainda a melhor desculpa do mundo: a chuva insistente e ruidosa que jorrava por de trás da janela abafada.

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