04/05/2008

Fechar a porta e descansar lá naquela sombra arbórea


Fajuta sabia, era como um sonho (in)finito, perfeito, deslocado do espaço. Já havia dito mil vezes e tornou a dizê-lo aquela frase que dizem da boca pra fora, mas que ela falava-o com enorme sinceridade. Era como batidas psicodélicas de surf nos ouvidos e sangue, só que na alma. Era um dançar blues extasiado, colado. Era um olhar para ele, saber quem ela era. Era a expressão do músico quando sola. Era como os gritos eufóricos libertinos de 68; um atingir da sabedoria não-romântica. Era um calor que chamavam sal-dade, que vinha, subia dos pés até o fio mais alto, onde se instalava sutil, demorado e cansativo. Depois, ia-se, para tornar em seguida.

E agora, o que faço com essas fotos todas? – perguntou ela ao Chico, buscando solução nos sambas de um CD gravado. Ao que o Chico respondeu:

É uma foto que não era para capa
Era a mera contra-cara, a face obscura
O retrato da paúra quando o cara
Se prepara para dar a cara a tapa

Era como se aquela hora deles houvesse se transformado. Era um belo final de filme, surpreendente, num fim de tarde qualquer. Era uma canção-balada de violão e gaita que estremece as células do braço, com arrepios hipnóticos.

Hey, hey, my, my! Era colocar os óculos e não enxergar mais as palavras daquilo que haviam reportado. Era tirar os pés daqueles chinelos emprestados. Pegar as camisetas, os CDs ali deixados, os filmes e o coração de volta.

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