09/12/2008

Exu caveira

Até ontem não sabia exatamente o que escreveria sobre Buenos Aires, onde estive desde o dia 9 de dezembro. Pero, durante a viagem de retorno ao Brasil, a polícia argentina parou os três ônibus brasileiros, cobrando propina para não retê-los na Argentina. Uma bagatela de 300 reais, alegando qualquer coisa irregular. Tem vídeo até.
Mas antes vem o post que escrevi logo quando cheguei em Buenos Aires. Longo, mas bem corrido, só pra constar para quem quer saber da viagem.

(-> postagem escrita entre os dias 9 e 11/12.)
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A ida.
D
epois de viajar mais de 48 horas do ônibus que apelidamos carinhosamente de sucatão
, chegamos. Foi, na vida, possivelmente (mesmo) a vez que mais passei calor. Como se nao bastasse o calor que é o clima e o aspecto desértico das rodovias hermanas, minha poltrona (se é que aquele assento pode levar tal nome) era a última, bem ao lado do motor do busao, que jogava um bafo quente nas pernas; colocar os pés descalços no chão era impossível, queimava a pele, esquentou pra caralho.

E os postos de beira de rodovia eram risíveis, um fiasco no atendimento. Clima de filme do Almodovar. Com pouquissimas personas atendendo, qualidade nenhuma dos alimentos servidos, os que eram preparados pelo restaurante. A melhor opção eram os industrializados; as comidas, se piorasse um pouquinho só o nível, podia servir o rango para porcos.

No andar do sucatão, muita averiguacao policial federal na rodovia. Nem sei dimensionar quantas vezes nossos 3 onibus do Brasil foram parados. Há boatos de que, em uma dessas paradas, houve a propina de 100 pesos aos guardas.

E havia uma maluca no busao, gritando "exu caveira", ou "cú de rola" o tempo todo e mostrando um pedaco de sua bunda magra na janela ou pro ônibus. Foi assim na ida, na volta e no albergue.

Hexa.

radinho - galera atenta a última rodada do campeonato brasileiro

Depois de conhecer (e não querer voltar nunca mais) as cataratas de Foz do Iguaçú, o Hexacampeonato do São Paulo foi comemorado no sucatão. Logo paramos na fronteira, onde brindamos as primeiras Quilmes da viagem, cerveja argentina clara, muito parecida com a Antártica. Porém, mais leve, mais saborosa.

Quase sem grana em Buenos Aires.
Terca acordamos cedo e de café da manha conhecemos a mea lua, um pao caseiro típico, levemente doce, menor que um pao frances brasileno. (o teclado do albergue nao tem til). Depois prosseguimos todos, da avenida 9 de Julho, onde nos hospedamos, até o micro-centro de Buenos Aires (é tipo o centro velho de Sampa), para fazer câmbio, trocar Real pelo Peso, a moeda argentina. De metrô, com janelas (ventillas) abertas, ventinho bom, tranquilo. É rápido, funcional e muito barato: a passagem custa 0.90 pesos (tipo 60 centavos). Pero nao cobre toda a cidade.

O pessoal fez uma pesquisa para saber qual casa de câmbio era a mais rentável. Trocaram um real por 1.43 pesos. No meu caso, foi um por 1.35, já que preferi fazer o câmbio no meu próprio banco, o do Brasil.

Do caixa eletrônico voce pode sacar direto na moeda local, pagando 2.5 dólares por saque. Mas nem tudo è tao simples . Puxei o Ourocard da carteira, que escorregou e vôou. Num golpe ràpido de reflexo, joguei o braco para pegá-lo, mas meu braco (essa porra nao faz cedilha, no lugar da letra há isso: ñ) comprimiu o cartao contra o meu próprio corpo, que o quebrou. Caralho, fudeu, sem grana em Buenos Aires, quem vai me emprestar grana nessa merda. Que inferno, que zica do cacete, nao vai dar pra comprar nada, pensei.
O azar rendeu um custo de 60 pesos para sacar grana direto de um caixa humano. Foi a única alternativa que restou.

Já na rua, a sede é intensa na Argentina. O clima se parece com o de Sao Paulo, porém mais quente, mais mormaco, mais sensacao de sede e boca seca. Mas venta bastante. Só que a água daqui tem um gosto ruim. É diferente, a opiniao é geral. É tipo uma água salobra, oleosa com um gosto que parece nao matar a sede. Tanto que, nos rolês pelo centro na terca, houve revezamento para comprar água. Que aliás, é meio cara.

Existe uma fama de que tudo é mais barato na Argentina. Por isso, o pessoal aproveita para gastar horrores. Mas nao é o caso. Por causa da crise mundial, os precos equilibraram-se. Na parte central de Buenos Aires os precos sao bastante parecidos com os do Brasil. E há muito chinelo Havaianas por aqui (tem lojas que sò vendem havaianas), eles adoram essas sandálias. E é bem caro tambèm, o chinelo mais simples, aquele que nao tem detalhe algum sai por mais de 35 reais.

Além do clima, o centro de Buenos Aires se assemelha muito com SP. Sao ruas estreiras, por vezes e avenidas largas, calcadas apertadas, trânsito desorganizado, e uma via só para pedestres caminharem (a Floridas), repleta de lojas de ambos os lados. É uma via bem extensa. Caminhando observamos: um velho de barba branca, unha do dedinho comprida, gordo, óculos redondo e camiseta branca fazia um som incrível no violao, plugado numa pequena caixa amplificada. Num banquinho, chapéu ao lado no chao, cujo apreco das pessoas que transitavam ficava ali depositado em pesos. Mais abaixo uma cena parecida. Porém uma jovem muy bela, de cabelos compridos claros, as luzes do cabelo se apagando da regiao alta de sua cabeca, fios soltos e franjinha, unhas dos pés e maos pintadas da mesma cor, um tom tipo salmao, sem amplificacao das cordas ou da voz nenhuma, boca pequena, voz imensa, rasgava, vinha direto da alma, uma cantoria fabulosa, gritada, mas isso nao significava ardência nos ouvidos, ninguém queria deixar de ver que tom ela alcancaria na proxima cancao. Imaginei-a com aquele violao maravilhoso, nalguma casa noturna, pouca luz, mesas, essas coisas. Ficaria ali por horas. Mas El Chavo nos aguardava.

Também num banquinho preto, mas em pé, uma figura do Chaves todo pintado de dourado, pra imitar estátua, buscava os fas(náticos) pelo seriado que o SBT guarda a sete chaves. Ele falava várias linguas, já morou em Sampa, e pede pesos em troca de fotos. Divertido.

Ao lado, na sequencia, uma apresentacao de tango, na faixa. É um absurdo de bom. Vir a Buenos Aires e querer escapar da danca porque é clichê, é a maior besteira que alguém poderia dizer. É muito bonito.
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Hospedagem e rango
Aqui na cidade há gringos por toda parte e de todas as partes do mundo. No albergue que estou hospedado, tem frances, chilenos, porto riquenho e muitos brasileiros. É um tipo de albergue estudantil, em que conforme o número de bicamas nos quartos, mais ou menos caro ele fica.
A comida é um grande problema aqui. Os argentinos se alimentam mal. Mas isso é relativo. A base do rango é batata. Purê, fritas, acompanham os pratos. Os mais comuns sao bife à milanesa, com ou sem molho e algum tipo de churrasco ou hamburgueres (as hamburguesas) . Feijao nem se fala, arroz, algumas vezes é possìvel encontrar, mas servido como se fosse uma salada, frio. No geral, eles comem muita gordura. Há Burguer King e Mc Donald´s, mas nao tem Habib´s.
Alfajor é muito comum, e também o que eles chamam de "empanadas", tipo uma esfirra fechada assada, em forma de risoles, massa fina e saborosa, de milhares de sabores, salgados. É muito gostoso.

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No momento que ajusto este post estao ensinando um argentino a dancar várias coisas: créu, tchan, tigrão etc. O cara está adorando. Nós também.

4 comentários:

Anônimo disse...

bendita foi a hora que você me devolveu o dinheiro de ilha e pude pagar a viagem mais improvável do ano :) gracias, chico!

Anônimo disse...

Adorei: post, a viagem e o blog!!

Besos e felices fiestas!

Anônimo disse...

Dahora seu blog, Gabriel.
Meo, que massa ler isso. Já vai dando saudade e as imagens dos lugares vão vindo à mente conforme leio a narração dos fatos.
Comem mal, mas num vi muitas pessoas obesas em Buenos Aires.
Abraços...

Anônimo disse...

Apesar do azar em quebrar a cartão, parece que se divertiu!!
O que tem nas cataratas de ruim? Não conheço e acho que, se depender de mim, rodar 48 hs., não vou! Bem-vindo à terrinha!! Beijus