Ir à grandes festivais de música é sempre um alto custo, de energias, sobretudo financeiras. Indiscultivelmente bem aplicado, porém. Além de toda aquela baboseira real de enriquecimento cultural, é um dia amplamente (preciso de palavras de grandeza) peculiar, lembrado eternamente, ainda no túmulo, quando cantigas roqueiras acompanharem o seu funeral. Provavelmente uma dessas bandas estará tocando nalgum Ipod no momento de sua despedida última. Fica aqui o registro, quando eu morrer, toquem o róque enrow.
---
Voltemos. Comparemos musicalmente o Planeta com o Tim Festival do ano passado. Nunca tinha parado pra ouvir The Killers, só conhecia um ou outro hit e não fazia idéia do quão fóda a Bjork poderia ser (Juliana, obrigado por me mostrar os vídeos da Bjork). E ainda tinha Arctic Monkeys, uma das poucas roqueiras que empolgam da geração zero zero. (Ouvi alguém gritar Strokes lá da sala.. é o caralho, façam o favor).
Esperava-se uma destruição dos macacos, um rock jovem e visceral, a banda aguardada, riffs que chacoalham a veia, que te fazem dizer, "caralho, isso é rock ´n roll". Tantas horas de espera, de atrasos, de filas e banheiros fedidos, de rangos esculachados, preços exorbitantes e necas. Talvez a ingestão de LSD-25 ajudasse, alterando a percepção, pra melhor.
Na verdade o que senti foi um show morninho (pro frio) e uma presença de palco.. aliás, nem se pode falar em "presença" nesse caso: ela foi nula. O comentário que ouvi à época sobre a apresentação dos britânicos, não consigo achar outro melhor, "eu parecia estar ouvindo o CD dos caras e, pra ouvir um CD, faço-o em casa".
Enfim.
Aquecimento
Antes do Planeta Terra nunca havia ouvido dizer o nome The Breeders. Nem Foals. Nem Jesus and Mary Chain (como assim?). É. A motivação pro festival era o Spoon, banda indie (o que é indie?) zero zero, a qual conheci tentando resenhar.
A Laís que ouve rock de batom-vermelho-carregado-sangue, de vestidinho, tipo sou groupie, e cheira o hálito de uma flor doce campestre me falou de uma pastinha em seu pc batizada de "esquenta planeta terra". Sugeri que Breeders era um bom nome pra começar. E o Gustavo, querido Bafo, me contou sobre Jesus. Pus o Breeders no emule e depois na radiola.
- Caralho!
Foi o melhor show do Terra, de longe. Três mulheres, entre elas só a Kim Deal, dois caras, um vocal incrível, num local com uma acústica inebriante, ousada.. estaria eu muito maluco? Não, era só metadinha. Enquanto isso, no outro palco do evento, Bloc Party fazia a festa, dessa vez sem play backs, era o que eles haviam prometido logo que chegaram ao Brasil. (como uma banda se sujeita a isso? Achei que fosse só a Britney; o Michel Jackson nunca faria isso). O Foals eu não vi, mas no blog do Lúcio Ribeiro, diz que foi o melhor do Festival. E não é a opnião dele.
O show do Spoon, desconsiderem as alucinações.
Agora sim.
Se a sonoridade dos discos já é absurdamente boa e instigante (tente descobrir como alguns sons são produzidos), duplique isso, receba a carga de energia sonora e some uma noite inspirada do quarteto, sobretudo de Britt Daniel, o guitar-vocal e Ercy Harvey, o multi instrumentista do grupo. Faltou apenas ser menos "reto", e brincar mais com os trechos instrumentais das músicas, variar, criar, solar etc.
O Spoon destilou quase todo o recente álbum Ga ga ga ga ga (07) e várias do magnífico Gimme Fiction, que data de 05 (The beast, the dragon, adoreded, Sister jack, My mathematical mind, I turn my camera on e Was it You - essa não estou certo).
Em The beast, the dragon... e lavando a garganta e o estômago infectado, apenas com "aguinha", esticava-me até o teto, bem pertinho, dançando toscamente; em seguida, como Hendrix, queria atravessá-lo e beijar o céu, ao som potente e incrível de My little japonese cigarrete case. Arrepios. Parecia estar diante de uma nave espacial passando, abarcando a música que Deus havia encomendado, mas era apenas o solinho e o baixo carregado de Rhthm & Soul...
Como assim "aguinha"?
Uma indisposição intestinal braba acolheu-me na tarde do evento. Grande imozec, vai me salvar, pensei. Após a "revista" (entre aspas mesmo) segui direto ao posto de saúde. Por que variados motivos as pessoas vão parar na enfermaria de grandes festivais? Um maluco de longos cabelos castanhos, deitado, tremia inteiro...
Rapidamente um médico aconselhou hidratação excessiva: "se puder corte o álcool, vc deve melhorar assim". Ah, sério mesmo doutor? Ele fez doutorado?
Que sentido faz ter a juventude na alma, estar num festival de rock com bandas que podem te levar pra outra dimensão, se não se tem catalisadores? Igualzinho como faziam há 40 anos. Quase não mudou. As drogas. Mas. E afinal, quem precisa de álcool quando se tem uma maleta repleta de drogas? Mas eu não tinha uma maleta forrada de drogas. Tinha apenas uma porchete.
E continuava, aquele palco no Indie Stage, palco indoor, baixinho, que permitia pleno contato com as bandas, a voz suave, combinada com o teor doce de teclados inconstantes, com guitarras por vezes pesadas e ruídos sintéticos do teclado de um britânico filho da puta (Harvey) - explítico em My mathematical mind; solos aliás, que parecem os barulhos noyses do Nirvana, ou do Pixies, mais obscuros, porém. É da guitarra mesmo que vem esse som? Caralho! Como se eles assim dissessem: "olha, nós somos pesados, mas espere, não, nós não somos pesados; mas sim, nós somos pesados e não, nós não somos pesadas e sim, nós..." - sentimento claro em Don´t make me a target. Em uma hora e pouquinho desfilaram as melhores músicas de um set list com duração de uma hora e pouquinho...
E veio Breeders, no mesmo palco. Não sem antes de Britt Daniel entrar em transe no chão, de joelhos com sua semi acústica vermelha. Beleza. Restava-me concordar com a frase ao lado: "que isso velho?? Inglês fazendo róque é covardia".
E os próprios Breeders vieram testar o som, instantes depois.
No palco, como verdadeiras enguias de Cortazar, elas abarcaram do céu para o Terra a encenação da vida, manifestada em cordas de guitarras, em solos curtos e em vozes magistralmente orquestradas. Elas trouxeram o Rock (esse, com maiúscula), as cabeçadas esvoaçantes no ar, os punhos cerrados no meio da fumaça, os gritos quase horripilantes de êxtase, o som e a voz (que voz é essa?) que desbaratinavam os corpos por ali.
Pergunte ao Emo...
A cerveja é só um real a mais, moça?
Me dá uma. Skol. Só tinha essa. Não foi Jesus, mas as Breeders que curaram o estômago, nada de deixar rastros pastosos por ali. Também se precisasse, havia papel higiênico sobrando, os banheiros ecológicos davam exemplo, em grande número, limpos e imersos em folhas e galhos de eucalipto. Quem teve essa idéia? Maravilha.
No meio do furor, de coros, de caretas que refletem bem o que se sente, as Breeders mostraram a bunda pra platéia. Nada de abaixar a calça, só na brincadeira mesmo. A banda estava visualmente se divertindo. Olhando e trocando palavras e beijinhos com o público, entre duas ou três canções estonteantes. A cada uma que surgia, um tapa na alma, mostrando como é que se faz... Sacou Monkeys?
E, ao contrário do Spoon, voltaram pro bis, mas só mais uma música. Foi-se. Quantas músicas eles tocaram mesmo? Quatro, cinco?
Mas ainda tinha os desconhecidos (pra mim) Kaiser Chiefs, naquele esquema do Killers, apenas os hits, ou melhor, o hit "Ruby". Era de propósito. Escolhi uma das bandas pra conhecer no palco. Deixo pra quem conhece a banda, comentar, mas, como se diz por aqui, eles fritaram o público com sua empolgação, domínio pleno e, sobretudo, com a música que invetaram.
O som do teclado é viagem, só isso que falo Daltão.
--
E fica a pergunta: que outro show foi melhor que Jesus (pra quem viu) ou Breeders, em 08, no Brasil?
---
Voltemos. Comparemos musicalmente o Planeta com o Tim Festival do ano passado. Nunca tinha parado pra ouvir The Killers, só conhecia um ou outro hit e não fazia idéia do quão fóda a Bjork poderia ser (Juliana, obrigado por me mostrar os vídeos da Bjork). E ainda tinha Arctic Monkeys, uma das poucas roqueiras que empolgam da geração zero zero. (Ouvi alguém gritar Strokes lá da sala.. é o caralho, façam o favor).
Esperava-se uma destruição dos macacos, um rock jovem e visceral, a banda aguardada, riffs que chacoalham a veia, que te fazem dizer, "caralho, isso é rock ´n roll". Tantas horas de espera, de atrasos, de filas e banheiros fedidos, de rangos esculachados, preços exorbitantes e necas. Talvez a ingestão de LSD-25 ajudasse, alterando a percepção, pra melhor.
Na verdade o que senti foi um show morninho (pro frio) e uma presença de palco.. aliás, nem se pode falar em "presença" nesse caso: ela foi nula. O comentário que ouvi à época sobre a apresentação dos britânicos, não consigo achar outro melhor, "eu parecia estar ouvindo o CD dos caras e, pra ouvir um CD, faço-o em casa".
Enfim.
Aquecimento
Antes do Planeta Terra nunca havia ouvido dizer o nome The Breeders. Nem Foals. Nem Jesus and Mary Chain (como assim?). É. A motivação pro festival era o Spoon, banda indie (o que é indie?) zero zero, a qual conheci tentando resenhar.
A Laís que ouve rock de batom-vermelho-carregado-sangue, de vestidinho, tipo sou groupie, e cheira o hálito de uma flor doce campestre me falou de uma pastinha em seu pc batizada de "esquenta planeta terra". Sugeri que Breeders era um bom nome pra começar. E o Gustavo, querido Bafo, me contou sobre Jesus. Pus o Breeders no emule e depois na radiola.
- Caralho!
Foi o melhor show do Terra, de longe. Três mulheres, entre elas só a Kim Deal, dois caras, um vocal incrível, num local com uma acústica inebriante, ousada.. estaria eu muito maluco? Não, era só metadinha. Enquanto isso, no outro palco do evento, Bloc Party fazia a festa, dessa vez sem play backs, era o que eles haviam prometido logo que chegaram ao Brasil. (como uma banda se sujeita a isso? Achei que fosse só a Britney; o Michel Jackson nunca faria isso). O Foals eu não vi, mas no blog do Lúcio Ribeiro, diz que foi o melhor do Festival. E não é a opnião dele.
O show do Spoon, desconsiderem as alucinações.
Agora sim.
Se a sonoridade dos discos já é absurdamente boa e instigante (tente descobrir como alguns sons são produzidos), duplique isso, receba a carga de energia sonora e some uma noite inspirada do quarteto, sobretudo de Britt Daniel, o guitar-vocal e Ercy Harvey, o multi instrumentista do grupo. Faltou apenas ser menos "reto", e brincar mais com os trechos instrumentais das músicas, variar, criar, solar etc.
O Spoon destilou quase todo o recente álbum Ga ga ga ga ga (07) e várias do magnífico Gimme Fiction, que data de 05 (The beast, the dragon, adoreded, Sister jack, My mathematical mind, I turn my camera on e Was it You - essa não estou certo).
Em The beast, the dragon... e lavando a garganta e o estômago infectado, apenas com "aguinha", esticava-me até o teto, bem pertinho, dançando toscamente; em seguida, como Hendrix, queria atravessá-lo e beijar o céu, ao som potente e incrível de My little japonese cigarrete case. Arrepios. Parecia estar diante de uma nave espacial passando, abarcando a música que Deus havia encomendado, mas era apenas o solinho e o baixo carregado de Rhthm & Soul...
Como assim "aguinha"?
Uma indisposição intestinal braba acolheu-me na tarde do evento. Grande imozec, vai me salvar, pensei. Após a "revista" (entre aspas mesmo) segui direto ao posto de saúde. Por que variados motivos as pessoas vão parar na enfermaria de grandes festivais? Um maluco de longos cabelos castanhos, deitado, tremia inteiro...
Rapidamente um médico aconselhou hidratação excessiva: "se puder corte o álcool, vc deve melhorar assim". Ah, sério mesmo doutor? Ele fez doutorado?
Que sentido faz ter a juventude na alma, estar num festival de rock com bandas que podem te levar pra outra dimensão, se não se tem catalisadores? Igualzinho como faziam há 40 anos. Quase não mudou. As drogas. Mas. E afinal, quem precisa de álcool quando se tem uma maleta repleta de drogas? Mas eu não tinha uma maleta forrada de drogas. Tinha apenas uma porchete.
E continuava, aquele palco no Indie Stage, palco indoor, baixinho, que permitia pleno contato com as bandas, a voz suave, combinada com o teor doce de teclados inconstantes, com guitarras por vezes pesadas e ruídos sintéticos do teclado de um britânico filho da puta (Harvey) - explítico em My mathematical mind; solos aliás, que parecem os barulhos noyses do Nirvana, ou do Pixies, mais obscuros, porém. É da guitarra mesmo que vem esse som? Caralho! Como se eles assim dissessem: "olha, nós somos pesados, mas espere, não, nós não somos pesados; mas sim, nós somos pesados e não, nós não somos pesadas e sim, nós..." - sentimento claro em Don´t make me a target. Em uma hora e pouquinho desfilaram as melhores músicas de um set list com duração de uma hora e pouquinho...
E veio Breeders, no mesmo palco. Não sem antes de Britt Daniel entrar em transe no chão, de joelhos com sua semi acústica vermelha. Beleza. Restava-me concordar com a frase ao lado: "que isso velho?? Inglês fazendo róque é covardia".
E os próprios Breeders vieram testar o som, instantes depois.
No palco, como verdadeiras enguias de Cortazar, elas abarcaram do céu para o Terra a encenação da vida, manifestada em cordas de guitarras, em solos curtos e em vozes magistralmente orquestradas. Elas trouxeram o Rock (esse, com maiúscula), as cabeçadas esvoaçantes no ar, os punhos cerrados no meio da fumaça, os gritos quase horripilantes de êxtase, o som e a voz (que voz é essa?) que desbaratinavam os corpos por ali.
Pergunte ao Emo...
A cerveja é só um real a mais, moça?
Me dá uma. Skol. Só tinha essa. Não foi Jesus, mas as Breeders que curaram o estômago, nada de deixar rastros pastosos por ali. Também se precisasse, havia papel higiênico sobrando, os banheiros ecológicos davam exemplo, em grande número, limpos e imersos em folhas e galhos de eucalipto. Quem teve essa idéia? Maravilha.
No meio do furor, de coros, de caretas que refletem bem o que se sente, as Breeders mostraram a bunda pra platéia. Nada de abaixar a calça, só na brincadeira mesmo. A banda estava visualmente se divertindo. Olhando e trocando palavras e beijinhos com o público, entre duas ou três canções estonteantes. A cada uma que surgia, um tapa na alma, mostrando como é que se faz... Sacou Monkeys?
E, ao contrário do Spoon, voltaram pro bis, mas só mais uma música. Foi-se. Quantas músicas eles tocaram mesmo? Quatro, cinco?
Mas ainda tinha os desconhecidos (pra mim) Kaiser Chiefs, naquele esquema do Killers, apenas os hits, ou melhor, o hit "Ruby". Era de propósito. Escolhi uma das bandas pra conhecer no palco. Deixo pra quem conhece a banda, comentar, mas, como se diz por aqui, eles fritaram o público com sua empolgação, domínio pleno e, sobretudo, com a música que invetaram.
O som do teclado é viagem, só isso que falo Daltão.
--
E fica a pergunta: que outro show foi melhor que Jesus (pra quem viu) ou Breeders, em 08, no Brasil?
2 comentários:
REM, meu caro! nada como 28 anos de estrada para colocar, no chinelo, bandas que dois, três álbuns e alguns anos...
Michael Stipe... eu ainda vou ser amigo dele! Antes, porém, tenho que acreditar que o Bono existe e que o Dave Grohl vai me chamar para uma festa na casa dele.
Mas que belíssimo comentário.
Postar um comentário