08/10/2008

As vozes do povo

Lá no shopp centis em Bauru, o pessoal pega “ôibus” na frente do estabelecimento, tem um ponto que se torna grande, de tanta gente, com cobertura pequena e poucos lugares pra sentar. Eles fritam na rua. Diz que é demorado, escasso, esburacado. Sempre a mesma estória. Nem criativo esse povo sabe ser.

A dona Erradicada não passou em branco. A ralé, aliás, costumar reclamar bastante. De barriga cheia, óbvio.O bairro onde ela (sob)reside é distante (o povo parece que gosta de se esconder), e o ônibus não chega. Então, quando dona Erradicada desce do coletivo, no último ponto, ainda precisa andar outros 45 minutos a pé, até sua morada. Todo dia é a mesma ladainha: sapatinho sujo de barro, “o patrão não gosta não”. Mas, andar um pouquinho todos os dias faz bem à saúde, garantem os doutores.

Fora um caso extremo a morte do pai da Darlene. Deu no Jornal da Globo, num sabe? Atente o leitor para a fatalidade, contudo não chores mais, não role no vento, é só um draminha. O pai de Darlene, santista dos tempos de Leão, boina, preta, barba rala, gente boa; chegou ao hospital e não tinha médico. Ah, o restante você já sabe meu amigo Créu.

Outra reclamona, aliás, Dona Barateira usa brincos grandes, gosta de unhas cumpridas e esmalte nos dedos, uma coroa enxuta. Toma café em qualquer lugar. “Não tenho preconceito, pode ser ali na esquina, ou naquele bar, não tem problema”. O problema pra dona Barateira é o café do hospital Estadual de Bauru, que custa valiosos R$ 1, 50.

- Cafezinho caro, sô!

Ela inventou que quem vai ao hospital Estadual não tem dinheiro pra tomar um café, “porque o ônibus já é caro”. Imagina só, caro? Trabalhador tem TRANSPORTE COLETIVO? Pára de reclamar dona Barateira! Mas ela não aqueta.

- A pessoa fica duas, três, quatro horas pra fazer a consulta, um exame mais complexo, fica lá várias horas e não tem dinheiro, muitas vezes só tem a condução. Como vai pagar R$1,50 por um café? A pessoa fica no hospital o dia todo menino! De novo essa conversa de demora pra atender, minha tia?

- Se for comer precisa ir até as barraquinhas lá de fora, porque dentro do Hospital é tudo caro, igual posto de estrada.

Sorte é do seu Jura. Pra ele tá tudo ótimo, a cidade é linda-maravilhosa e não tem problemas. Nenhum. Nem no seu bairro, garantiu-me com expressão séria, não duvidem.

E pra resolver todos os problemas de Jandira, bastava uma creche. Só isso. Quem manda fazer filhos Jandira? O problema agora é da prefeitura, que deve! a estrutura de que Jandira necessita, estrutura que ela diz ser “TUDO que eu preciso na vida”. Como se vê, não carece muito pra ser feliz.

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-> Uma homenagem singela. Ouvi os personagens reais de Bauru, fazendo "fala povo" nas ruas. Mas é só isso que posso dizer, devo me calar, aguardo a liberação dos arquivos secretos da dita!dura! (o que estão esperando senhores liberdade-democracia?), senão eles me pegam, tem gente batendo na porta, que aflição.

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Ato pacífico contra o blogger: vc é ridículo pra ctrl c, ctrl v de textos do word.

PS2. Lucas Ruiz, vc está crescendo.


Sun Walk and Dog Brothers.

5 comentários:

Anônimo disse...

Amei. Mto bom mesmo!
Desconfio que o sobrenome desse seu Jura não Coube no texto. Mas como vc mesmo disse, nessa cova eu não caio! huahauhau
Não se sinta só, o meu MSN com uma mensagem de apoio ao loirinho debutante também foi censurado essa semana. O porquê você já deve imaginar. Aí eu troquei a frase por "honorável medidor de luz". Também acho melhor não atiçar a dita!dura! (adorei isso). De qualquer maneira, também não dá pra saber se a juventude no poder vá mudar alguma coisa. E com tanta incerteza no ar, o final do post é a cereja do bolo: Não tem outro remédio, tem que ser Blues Everyday.
bjo!

Unknown disse...

Fiquei emocionada ao terminar de ler o texto, não sei o por quê. Me fez pensar e lembrar de mil coisas que já passaram, de muitas "vozes" que também já ouvi em terras sem asfalto. E isso fica na gente e intriga. O "como pode?" passa pela minha cabeça sempre.
Uma vez ouvi de você: "desencana, cara". E nesse dia te falei que não conseguia desencanar aos 22 anos. E vc me respondeu: "quem sabe então aos 24 ".

Fiquei pensando no que você devia estar sentindo ao escrever tudo isso nesse momento de "censura".
No fim, acho que vc tb não consegue desencanar aos 24 :)

Adorei gabriel! Além de tudo, os nomes ficaram um máximo.
Um beijo grande

Unknown disse...

Já sei o por quê... o texto é tão irônico que revolta.

Lucas disse...

Fiiicoo Locoo o Teexto Maano!
Gosto de Ler Suas postagens aqui no blog ! :)
Adoro seus textos!
Briigaado Pela Referência lá no finaal !

Te AMO Irmão! Saaudade!
Abraaço Forte! sz'

Mayara disse...

Depois de milianos consegui retornar ao local onde as notícias podem ser mentirosas, mas a pessoa que as escrevem não. O sorrisão denuncia que é sincero, e há coisas que não dá pra esconder por mais que se tente. É fato!
Assim como é fato que já coloquei o link nos favoritos da minha sala de psicanálise. Agora não tem jeito: aparecerei sempre.
Beijos anjo Gabriel. *: