27/12/2008

Post íntimo

Essa época do ano é muito difícil postar. Neste ano em especial, porque não estou em casa, e preciso usar computador de lan house, como faço agora, o que é bastante desconfortável.
Há tempos venho pensando nos posts grudados na memória e nas pessoas que desejo homenagear, falar aqui.

E não conseguirei postar até o início do ano. Daqui de Jataizinho, no PR, onde os cachorros mordem as pessoas, provavelmente passo os últimos dias do ano em lugares roots, cheio de mato, sem energia, essas coisas.
Por isso, gostaria de desejar coisas boas pra toda a minha família, em especial a Leila que veio nos visitar (estávamos com saudades) e a Tia Neide, que me abrigou e me aguentou durante toda a minha faculdade (me formei agora em desembro!). Além dos sempore heróis mamãe e papai, que me presentearam eternamente com a vida.
Os amigos, comparsas, admiráveis, etc . Pretendo um post homenagem. Só não sei quando. Precisa lembrar de um montão de gente.
E
Feliz Natal. E Feliz Virada.
Alegria, Desapego e Paz pra todos.
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Pessoal que viajou comigo pra Argentina e comentou aqui: foi muito legal conhecê-los. vcs são fódas.
Eu quis pular linhas entre os parágrafos, mas essa merda de blogguer, não aceita. Já reeditei 8 vezes, pulando as linhas, mas ele insiste em juntar. Não vou brigar, é natal.

09/12/2008

Exu caveira

Até ontem não sabia exatamente o que escreveria sobre Buenos Aires, onde estive desde o dia 9 de dezembro. Pero, durante a viagem de retorno ao Brasil, a polícia argentina parou os três ônibus brasileiros, cobrando propina para não retê-los na Argentina. Uma bagatela de 300 reais, alegando qualquer coisa irregular. Tem vídeo até.
Mas antes vem o post que escrevi logo quando cheguei em Buenos Aires. Longo, mas bem corrido, só pra constar para quem quer saber da viagem.

(-> postagem escrita entre os dias 9 e 11/12.)
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A ida.
D
epois de viajar mais de 48 horas do ônibus que apelidamos carinhosamente de sucatão
, chegamos. Foi, na vida, possivelmente (mesmo) a vez que mais passei calor. Como se nao bastasse o calor que é o clima e o aspecto desértico das rodovias hermanas, minha poltrona (se é que aquele assento pode levar tal nome) era a última, bem ao lado do motor do busao, que jogava um bafo quente nas pernas; colocar os pés descalços no chão era impossível, queimava a pele, esquentou pra caralho.

E os postos de beira de rodovia eram risíveis, um fiasco no atendimento. Clima de filme do Almodovar. Com pouquissimas personas atendendo, qualidade nenhuma dos alimentos servidos, os que eram preparados pelo restaurante. A melhor opção eram os industrializados; as comidas, se piorasse um pouquinho só o nível, podia servir o rango para porcos.

No andar do sucatão, muita averiguacao policial federal na rodovia. Nem sei dimensionar quantas vezes nossos 3 onibus do Brasil foram parados. Há boatos de que, em uma dessas paradas, houve a propina de 100 pesos aos guardas.

E havia uma maluca no busao, gritando "exu caveira", ou "cú de rola" o tempo todo e mostrando um pedaco de sua bunda magra na janela ou pro ônibus. Foi assim na ida, na volta e no albergue.

Hexa.

radinho - galera atenta a última rodada do campeonato brasileiro

Depois de conhecer (e não querer voltar nunca mais) as cataratas de Foz do Iguaçú, o Hexacampeonato do São Paulo foi comemorado no sucatão. Logo paramos na fronteira, onde brindamos as primeiras Quilmes da viagem, cerveja argentina clara, muito parecida com a Antártica. Porém, mais leve, mais saborosa.

Quase sem grana em Buenos Aires.
Terca acordamos cedo e de café da manha conhecemos a mea lua, um pao caseiro típico, levemente doce, menor que um pao frances brasileno. (o teclado do albergue nao tem til). Depois prosseguimos todos, da avenida 9 de Julho, onde nos hospedamos, até o micro-centro de Buenos Aires (é tipo o centro velho de Sampa), para fazer câmbio, trocar Real pelo Peso, a moeda argentina. De metrô, com janelas (ventillas) abertas, ventinho bom, tranquilo. É rápido, funcional e muito barato: a passagem custa 0.90 pesos (tipo 60 centavos). Pero nao cobre toda a cidade.

O pessoal fez uma pesquisa para saber qual casa de câmbio era a mais rentável. Trocaram um real por 1.43 pesos. No meu caso, foi um por 1.35, já que preferi fazer o câmbio no meu próprio banco, o do Brasil.

Do caixa eletrônico voce pode sacar direto na moeda local, pagando 2.5 dólares por saque. Mas nem tudo è tao simples . Puxei o Ourocard da carteira, que escorregou e vôou. Num golpe ràpido de reflexo, joguei o braco para pegá-lo, mas meu braco (essa porra nao faz cedilha, no lugar da letra há isso: ñ) comprimiu o cartao contra o meu próprio corpo, que o quebrou. Caralho, fudeu, sem grana em Buenos Aires, quem vai me emprestar grana nessa merda. Que inferno, que zica do cacete, nao vai dar pra comprar nada, pensei.
O azar rendeu um custo de 60 pesos para sacar grana direto de um caixa humano. Foi a única alternativa que restou.

Já na rua, a sede é intensa na Argentina. O clima se parece com o de Sao Paulo, porém mais quente, mais mormaco, mais sensacao de sede e boca seca. Mas venta bastante. Só que a água daqui tem um gosto ruim. É diferente, a opiniao é geral. É tipo uma água salobra, oleosa com um gosto que parece nao matar a sede. Tanto que, nos rolês pelo centro na terca, houve revezamento para comprar água. Que aliás, é meio cara.

Existe uma fama de que tudo é mais barato na Argentina. Por isso, o pessoal aproveita para gastar horrores. Mas nao é o caso. Por causa da crise mundial, os precos equilibraram-se. Na parte central de Buenos Aires os precos sao bastante parecidos com os do Brasil. E há muito chinelo Havaianas por aqui (tem lojas que sò vendem havaianas), eles adoram essas sandálias. E é bem caro tambèm, o chinelo mais simples, aquele que nao tem detalhe algum sai por mais de 35 reais.

Além do clima, o centro de Buenos Aires se assemelha muito com SP. Sao ruas estreiras, por vezes e avenidas largas, calcadas apertadas, trânsito desorganizado, e uma via só para pedestres caminharem (a Floridas), repleta de lojas de ambos os lados. É uma via bem extensa. Caminhando observamos: um velho de barba branca, unha do dedinho comprida, gordo, óculos redondo e camiseta branca fazia um som incrível no violao, plugado numa pequena caixa amplificada. Num banquinho, chapéu ao lado no chao, cujo apreco das pessoas que transitavam ficava ali depositado em pesos. Mais abaixo uma cena parecida. Porém uma jovem muy bela, de cabelos compridos claros, as luzes do cabelo se apagando da regiao alta de sua cabeca, fios soltos e franjinha, unhas dos pés e maos pintadas da mesma cor, um tom tipo salmao, sem amplificacao das cordas ou da voz nenhuma, boca pequena, voz imensa, rasgava, vinha direto da alma, uma cantoria fabulosa, gritada, mas isso nao significava ardência nos ouvidos, ninguém queria deixar de ver que tom ela alcancaria na proxima cancao. Imaginei-a com aquele violao maravilhoso, nalguma casa noturna, pouca luz, mesas, essas coisas. Ficaria ali por horas. Mas El Chavo nos aguardava.

Também num banquinho preto, mas em pé, uma figura do Chaves todo pintado de dourado, pra imitar estátua, buscava os fas(náticos) pelo seriado que o SBT guarda a sete chaves. Ele falava várias linguas, já morou em Sampa, e pede pesos em troca de fotos. Divertido.

Ao lado, na sequencia, uma apresentacao de tango, na faixa. É um absurdo de bom. Vir a Buenos Aires e querer escapar da danca porque é clichê, é a maior besteira que alguém poderia dizer. É muito bonito.
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Hospedagem e rango
Aqui na cidade há gringos por toda parte e de todas as partes do mundo. No albergue que estou hospedado, tem frances, chilenos, porto riquenho e muitos brasileiros. É um tipo de albergue estudantil, em que conforme o número de bicamas nos quartos, mais ou menos caro ele fica.
A comida é um grande problema aqui. Os argentinos se alimentam mal. Mas isso é relativo. A base do rango é batata. Purê, fritas, acompanham os pratos. Os mais comuns sao bife à milanesa, com ou sem molho e algum tipo de churrasco ou hamburgueres (as hamburguesas) . Feijao nem se fala, arroz, algumas vezes é possìvel encontrar, mas servido como se fosse uma salada, frio. No geral, eles comem muita gordura. Há Burguer King e Mc Donald´s, mas nao tem Habib´s.
Alfajor é muito comum, e também o que eles chamam de "empanadas", tipo uma esfirra fechada assada, em forma de risoles, massa fina e saborosa, de milhares de sabores, salgados. É muito gostoso.

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No momento que ajusto este post estao ensinando um argentino a dancar várias coisas: créu, tchan, tigrão etc. O cara está adorando. Nós também.

03/12/2008

Festival Planeta Terra 08

Ir à grandes festivais de música é sempre um alto custo, de energias, sobretudo financeiras. Indiscultivelmente bem aplicado, porém. Além de toda aquela baboseira real de enriquecimento cultural, é um dia amplamente (preciso de palavras de grandeza) peculiar, lembrado eternamente, ainda no túmulo, quando cantigas roqueiras acompanharem o seu funeral. Provavelmente uma dessas bandas estará tocando nalgum Ipod no momento de sua despedida última. Fica aqui o registro, quando eu morrer, toquem o róque enrow.

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Voltemos. Comparemos musicalmente o Planeta com o Tim Festival do ano passado. Nunca tinha parado pra ouvir The Killers, só conhecia um ou outro hit e não fazia idéia do quão fóda a Bjork poderia ser (Juliana, obrigado por me mostrar os vídeos da Bjork). E ainda tinha Arctic Monkeys, uma das poucas roqueiras que empolgam da geração zero zero. (Ouvi alguém gritar Strokes lá da sala.. é o caralho, façam o favor).
Esperava-se uma destruição dos macacos, um rock jovem e visceral, a banda aguardada, riffs que chacoalham a veia, que te fazem dizer, "caralho, isso é rock ´n roll". Tantas horas de espera, de atrasos, de filas e banheiros fedidos, de rangos esculachados, preços exorbitantes e necas. Talvez a ingestão de LSD-25 ajudasse, alterando a percepção, pra melhor.

Na verdade o que senti foi um show morninho (pro frio) e uma presença de palco.. aliás, nem se pode falar em "presença" nesse caso: ela foi nula. O comentário que ouvi à época sobre a apresentação dos britânicos, não consigo achar outro melhor, "eu parecia estar ouvindo o CD dos caras e, pra ouvir um CD, faço-o em casa".
Enfim.


Aquecimento
Antes do Planeta Terra nunca havia ouvido dizer o nome The Breeders. Nem Foals. Nem Jesus and Mary Chain (como assim?). É. A motivação pro festival era o Spoon, banda indie (o que é indie?) zero zero, a qual conheci tentando resenhar.

A Laís que ouve rock de batom-vermelho-carregado-sangue, de vestidinho, tipo sou groupie, e cheira o hálito de uma flor doce campestre me falou de uma pastinha em seu pc batizada de "esquenta planeta terra". Sugeri que Breeders era um bom nome pra começar. E o Gustavo, querido Bafo, me contou sobre Jesus. Pus o Breeders no emule e depois na radiola.

- Caralho!

Foi o melhor show do Terra, de longe. Três mulheres, entre elas a Kim Deal, dois caras, um vocal incrível, num local com uma acústica inebriante, ousada.. estaria eu muito maluco? Não, era só metadinha. Enquanto isso, no outro palco do evento, Bloc Party fazia a festa, dessa vez sem play backs, era o que eles haviam prometido logo que chegaram ao Brasil. (como uma banda se sujeita a isso? Achei que fosse só a Britney; o Michel Jackson nunca faria isso). O Foals eu não vi, mas no blog do Lúcio Ribeiro, diz que foi o melhor do Festival. E não é a opnião dele.

O show do Spoon, desconsiderem as alucinações.
Agora sim.

Se a sonoridade dos discos já é absurdamente boa e instigante (tente descobrir como alguns sons são produzidos), duplique isso, receba a carga de energia sonora e some uma noite inspirada do quarteto, sobretudo de Britt Daniel, o guitar-vocal e Ercy Harvey, o multi instrumentista do grupo. Faltou apenas ser menos "reto", e brincar mais com os trechos instrumentais das músicas, variar, criar, solar etc.

O Spoon destilou quase todo o recente álbum Ga ga ga ga ga (07) e várias do magnífico Gimme Fiction, que data de 05 (The beast, the dragon, adoreded, Sister jack, My mathematical mind, I turn my camera on e Was it You - essa não estou certo).
Em The beast, the dragon... e lavando a garganta e o estômago infectado, apenas com "aguinha", esticava-me até o teto, bem pertinho, dançando toscamente; em seguida, como Hendrix, queria atravessá-lo e beijar o céu, ao som potente e incrível de My little japonese cigarrete case. Arrepios. Parecia estar diante de uma nave espacial passando, abarcando a música que Deus havia encomendado, mas era apenas o solinho e o baixo carregado de Rhthm & Soul...

Como assim "aguinha"?
Uma indisposição intestinal braba acolheu-me na tarde do evento. Grande imozec, vai me salvar, pensei. Após a "revista" (entre aspas mesmo) segui direto ao posto de saúde. Por que variados motivos as pessoas vão parar na enfermaria de grandes festivais? Um maluco de longos cabelos castanhos, deitado, tremia inteiro...
Rapidamente um médico aconselhou hidratação excessiva: "se puder corte o álcool, vc deve melhorar assim". Ah, sério mesmo doutor? Ele fez doutorado?

Que sentido faz ter a juventude na alma, estar num festival de rock com bandas que podem te levar pra outra dimensão, se não se tem catalisadores? Igualzinho como faziam há 40 anos. Quase não mudou. As drogas. Mas. E afinal, quem precisa de álcool quando se tem uma maleta repleta de drogas? Mas eu não tinha uma maleta forrada de drogas. Tinha apenas uma porchete.

E continuava, aquele palco no Indie Stage, palco indoor, baixinho, que permitia pleno contato com as bandas, a voz suave, combinada com o teor doce de teclados inconstantes, com guitarras por vezes pesadas e ruídos sintéticos do teclado de um britânico filho da puta (Harvey) - explítico em My mathematical mind; solos aliás, que parecem os barulhos noyses do Nirvana, ou do Pixies, mais obscuros, porém. É da guitarra mesmo que vem esse som? Caralho! Como se eles assim dissessem: "olha, nós somos pesados, mas espere, não, nós não somos pesados; mas sim, nós somos pesados e não, nós não somos pesadas e sim, nós..." - sentimento claro em Don´t make me a target. Em uma hora e pouquinho desfilaram as melhores músicas de um set list com duração de uma hora e pouquinho...


E veio Breeders, no mesmo palco. Não sem antes de Britt Daniel entrar em transe no chão, de joelhos com sua semi acústica vermelha. Beleza. Restava-me concordar com a frase ao lado: "que isso velho?? Inglês fazendo róque é covardia".

E os próprios Breeders vieram testar o som, instantes depois.
No palco, como verdadeiras enguias de Cortazar, elas abarcaram do céu para o Terra a encenação da vida, manifestada em cordas de guitarras, em solos curtos e em vozes magistralmente orquestradas. Elas trouxeram o Rock (esse, com maiúscula), as cabeçadas esvoaçantes no ar, os punhos cerrados no meio da fumaça, os gritos quase horripilantes de êxtase, o som e a voz (que voz é essa?) que desbaratinavam os corpos por ali.
Pergunte ao Emo...

A cerveja é só um real a mais, moça?
Me dá uma. Skol. Só tinha essa. Não foi Jesus, mas as Breeders que curaram o estômago, nada de deixar rastros pastosos por ali. Também se precisasse, havia papel higiênico sobrando, os banheiros ecológicos davam exemplo, em grande número, limpos e imersos em folhas e galhos de eucalipto. Quem teve essa idéia? Maravilha.

No meio do furor, de coros, de caretas que refletem bem o que se sente, as Breeders mostraram a bunda pra platéia. Nada de abaixar a calça, só na brincadeira mesmo. A banda estava visualmente se divertindo. Olhando e trocando palavras e beijinhos com o público, entre duas ou três canções estonteantes. A cada uma que surgia, um tapa na alma, mostrando como é que se faz... Sacou Monkeys?

E, ao contrário do Spoon, voltaram pro bis, mas só mais uma música. Foi-se. Quantas músicas eles tocaram mesmo? Quatro, cinco?
Mas ainda tinha os desconhecidos (pra mim) Kaiser Chiefs, naquele esquema do Killers, apenas os hits, ou melhor, o hit "Ruby". Era de propósito. Escolhi uma das bandas pra conhecer no palco. Deixo pra quem conhece a banda, comentar, mas, como se diz por aqui, eles fritaram o público com sua empolgação, domínio pleno e, sobretudo, com a música que invetaram.

O som do teclado é viagem, só isso que falo Daltão.

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E fica a pergunta: que outro show foi melhor que Jesus (pra quem viu) ou Breeders, em 08, no Brasil?